A arte de comer cú
Uma vez ouvi um jovem dizer para o outro: “quem come cu come merda!” – resumindo o nojo que muitos homens sentem pela foda anal, imaginando que toda penetração pela traseira implica em sujar o pau com excrementos. Ledo engano: homens e mulheres que costumam dar o rabo têm hábitos de higiene que garantem penetrações múltiplas sem qualquer cheiro ou marca fecal.
Como me disse certa vez um amigo meu, uma gay que conheci na sauna, “lavo tão bem lavado meu cu, que fica alvinho, alvinho! ” E é verdade: há cus tão bem lavados que convidam ao chamado “beijo negro” (anilíngua) – outro preconceito racista! O mais gozado nesta história de beijar o cu é que tem homem que jamais daria um beijo na boca de um gay, mas não resiste a tentação de chupar o cu da bicha.
Encontrei um que disse-me que conseguia enfiar a língua toda no cu de seu parceiro: língua dura assim é raridade.
Nem todo homem sabe dos segredos do cu e fica imaginando que a cópula anal implica sempre em misturar sua genitália com as fezes do parceiro (a). Daí o medo de muitos de que se cumpra o ditado preconceituoso: quem come cu come merda.
Na gíria popular gay, “passar cheque” é quando sucede alguns destes acidentes de percurso – ficando o pênis sujo de fezes, reservando-se o termo “passar fax” quando foi a camisinha que ficou melada com esta desagradável matéria.
Não há gay que nunca em sua vida não tenha passado por uma dessas situações um tanto constrangedoras – ossos do ofício.
Embora a maioria dos mortais abomine esta nefanda mistura – do pênis e esperma com matéria fecal – como é do conhecimento público, há quem valorize tal experiência – rotulada pelos sexólogos de escatofilia – o gosto pela merda.
Há muitas profissionais do sexo, prostitutas e travestis, que contam de clientes que eram aficionados a esta modalidade de prazer. Tem gosto para tudo neste mundão de meu Deus e desde que tais fantasias sejam realizadas com consentimento mútuo, quem não gosta não tem nada de pichar o gosto alheio. Como diz o ditado baiano: quem tem o seu, dá a quem quer!
Volto ao tema: na minha opinião e experiência, a maioria dos machos tem medo e não sabe como comer um cu. Meter numa vagina é mais fácil pois está praticamente aberta para receber a vara do varão. (Apesar de Freud dizer que tem muito homem que tem medo da tal “vagina dentada”, temendo que ao meter seu falo lá dentro, dentes afiados e pontiagudos poderiam decepar o seu troféu).
O cu, ao contrário da vagina, oferece muito maior resistência para ser penetrado. De uma parte pela musculatura natural do próprio ânus que tem forte capacidade de contração, fechando hermeticamente o fiofó. De outra parte por mecanismos psicológicos de rejeição da relação anal, passado por milhares de gerações, que considerava a cópula anal pecado, crime, abominação.
A falta de experiência e ousadia do homem muitas vezes frustra a tentativa de quem quer dar seu cu pois o bofe fica tentando meter a seco, sem endireitar a pica com a mão, e o que acontece no final é o fiasco: o pau amolece e o tesão vai para o brejo.
Este seria um dos fatores que inibiria certos homens em penetrar por via anal, inibição que pode chegar a afetar o próprio tesão do candidato, que na hora de mostrar seu vigor, simplesmente não tem força suficiente para vencer o esfíncter retal pois ele é um músculo tão forte e resistente, que dificilmente se deixaria penetrar por membros indesejados.
Uma das regras elementares para quem quer comer um cu é primeiro futucar o dito cujo: futucar é mais sutil do que cutucar – é bulir devagarinho, ir apertando as bordas do lado, pressionar levemente o centro até sentir que o cu deu aquela fisgada como se estivesse dizendo que está afim de algo mais consistente – o caralho. Nestes prelúdios duas regras são fundamentais: unha curta e lubrificante.
Não há cu que aguente o indivíduo metendo o dedo com a unha grande – além de dolorido, pode ferir a mucosa anal. Não é à toa que as lésbicas mantêm as unhas bem cortadinhas. Portanto, unha de gavião não tem vez na arte da futucação. Segundo: mesmo só para bolinar, sempre se deve o cu lubrificar. Seja com saliva, óleo, lubrificante a base de água (o único apropriado para camisinha), o certo é que um liquidozinho sempre facilita a penetração. No Brasil só existe o K-Y, lubrificante à base de água, ótimo para todo tipo de jogos eróticos.
Outra regra para bem comer um furico é meter de acordo com o gosto do doador: e minha experiência comprova que em matéria de analidade, os gostos são variadíssimos e gosto não se discute. Tem bicha que só se satisfaz com pica gigantesca, tamanho jumento, e chegam algumas a reclamar dizendo que pica fina fere o reto. Outras valorizam mais a grossura, pois gostam de sentir a manjuba bem arrochada no canal.
A maioria dos “engole ganso” preferem delicadeza ao menos no início da transa: ir metendo devagar, com bastante lubrificante, até que os músculos se relaxaram e acostumaram com a invasão daquele picolé de carne. Só então, depois de algum tempinho, é que o caralho deve começar a “madeirar” – entrando e saindo, dando empurrões bem lá no fundo, pondo e tirando, metendo de vez, metendo prá foder.
Querer meter de vez logo no primeiro minuto pode ferir, doer, e o passivo ficar pouco relaxado para receber a estrovenga inteira. Aí a relação anal pode se tornar impossível, pois um pouquinho de dor até dá prá erotizar, mas dor muito forte, afasta o tesão. É nestes casos que se aplica o ditado popular: “quem tem cu, teme”.